Extraído do Programa Verdade e Vida
terça-feira, 23 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
O Batismo Infantil
Por Pr. Marcos Granconato
A prática do batismo
infantil foi adotada muito cedo pela igreja cristã. De fato, já no século 2 há
evidências de que os cristãos batizavam seus bebês, uma vez que criam no
batismo como uma forma de remissão de pecados e capaz de garantir a salvação
das vítimas de morte prematura.
É verdade que Tertuliano de Cartago († c. 220) se insurgiu contra essa prática.
Porém, ele o fez porque entendia que o arrependimento para perdão de pecados
mortais só poderia ocorrer uma vez depois do batismo. Segundo Tertuliano, esse
fato deixava os que eram batizados muito cedo em situação perigosa, sujeitos a
perder, irremediavelmente e para sempre, o favor de Deus na fase adulta. Para
ele, esse era o motivo pelo qual o batismo devia ser protelado até que a pessoa
se sentisse mais distante do perigo de cometer pecados mortais como o
adultério, o assassinato ou a apostasia.
Se, por um lado, há ampla evidência histórica para o pedobatismo, de outro, não há nenhum fundamento bíblico para essa prática. A despeito disso, os defensores do batismo infantil apresentam alguns argumentos em sua defesa.
O primeiro desses
argumentos (e talvez o mais popular) é construído a partir da história narrada
em Atos 16.27-34, referente à conversão do carcereiro de Filipos e
seus familiares. Segundo o texto, depois que ouviram a Palavra do Senhor,
o carcereiro foi batizado, ele e todos os da sua casa (At 16.33). No
entender dos pedobatistas, certamente havia crianças bem pequenas naquela
família, sendo todas incluídas no batismo realizado naquela ocasião. É difícil,
porém, levar esse argumento a sério, posto que se sustenta unicamente sobre o
frágil alicerce da imaginação e da criatividade dos seus proponentes.
Para desmantelá-lo, basta lembrar o fato óbvio de que nem todas as famílias têm
bebês em casa.
A defesa do batismo infantil
tem, na verdade, colunas de apoio muito mais sólidas do que o argumento exposto
acima. Seus proponentes mais capazes expõem razões que merecem consideração
séria e análise mais bem elaborada.
É o caso do argumento
relativo ao Pacto. Os pedobatistas entendem que, assim como os bebês dos
israelitas eram circuncidados pelo fato de seus pais pertencerem ao Pacto entre
Deus e a nação judaica (Gn 17.10-14), da mesma forma os bebês dos
crentes devem ser batizados, uma vez que seus pais, desde o dia em que se
converteram, tornaram-se participantes do mesmo Pacto por meio da fé em Cristo
(Gl 3.7,29). Essa concepção ainda admite expressamente que os filhos de
quem participa do Pacto também pertencem ao Pacto, estando aí a razão principal
para que se sujeitem ao símbolo do Pacto. Ora, no passado, o símbolo do Pacto
foi a circuncisão, mas, como ela foi anulada (Gl 5.2,6; 6.15), o batismo
a substituiu. Assim, de acordo com essa visão, o batismo infantil é o
correspondente cristão da circuncisão judaica.
Essa conexão entre
circuncisão e batismo é defendida especialmente com base em Colossenses
2.11-12. Nesse texto, dizem, circuncisão e batismo estão ligados, ambos
representando o fim da velha vida de pecado, havendo, assim, forte associação
entre os dois ritos. Em seu desdobramento final, toda essa argumentação afirma
o seguinte: se Paulo iguala a circuncisão e ao batismo e se o primeiro era
aplicado aos bebês, nenhum absurdo há em aplicar também o batismo aos
recém-nascidos.
Outro intrigante argumento em prol do batismo infantil é baseado em Romanos 4.11. Esse argumento é construído assim: Em Romanos 4.11, Paulo define a circuncisão como “selo da justiça da fé”. Ora, no Velho Testamento, Deus ordenou que esse “selo da justiça da fé” fosse aplicado a bebês que não tinham fé (Lv 12.3). Logo, não é errado gravar com um selo de fé as crianças que ainda não crêem. Condenar essa prática seria reprovar o que o próprio Deus ordenou! Assim, considerando que o batismo também é um selo de fé, nada há de errado em aplicá-lo ao bebê que ainda não crê. Se o próprio Deus mandou que isso fosse feito, quem somos nós para dizer que é preciso crer antes de receber o selo da fé?
Se tudo isso é correto, por
que os batistas e outros evangélicos não batizam bebês? As razões disso serão
expostas em seguida.
Os argumentos que defendem
o batismo infantil, ainda que muito bem elaborados, estão sujeitos a sérios
questionamentos. Primeiro: a noção de que a participação dos pais crentes no
Novo Pacto autoriza o batismo de seus filhos, da mesma forma que a participação
dos pais israelitas no Velho Pacto impunha-lhes o dever de circuncidar seus
bebês merece grave objeção. Isso porque o bebê israelita não era circuncidado
porque seus pais eram israelitas. Ele era circuncidado porque, sendo filho de
judeus, ele próprio era israelita. A causa direta da
circuncisão do bebê judeu não estava nos pais, mas no próprio bebê, no fato de
ele mesmo ser um judeu. Ora, não é esse o caso dos filhos dos crentes. Estes
não nascem crentes, inexistindo neles próprios qualquer razão para que recebam
o batismo. De fato, se o filho do israelita nascia israelita e, por isso, era
circuncidado, o filho do cristão, por sua vez, não nasce cristão, não havendo
razão nenhuma para ser batizado.
Há também grave deficiência no ensino, exposto na primeira parte deste artigo, de que o batismo é um substituto da circuncisão. Na verdade, absolutamente nada na Bíblia corrobora essa concepção. Mesmo o texto de Colossenses 2.11,12 está mui longe de confirmá-la. Aliás, uma simples leitura dessa passagem deixará o leitor surpreso, questionando onde é possível encontrar ali qualquer base para o ensino de que o batismo ocupa hoje o lugar do rito judaico.
A eventual surpresa do leitor será fácil de ser compreendida. Isso porque Colossenses 2.11,12 fala claramente da circuncisão do coração e do batismo do crente na morte de Cristo, ou seja, trata de realidades espirituais e não de ritos externos. Ademais, a passagem aponta essas realidades espirituais como fenômenos distintos e não como se o segundo fosse substituto do primeiro.
Com efeito, em Colossenses 2.11,12, Paulo explica que o crente foi circuncidado por Cristo (Rm 2.28,29). Isso significa, conforme o próprio v.11 esclarece, que sua natureza pecaminosa foi despojada e enfraquecida (Rm 6.6). Em seguida, o apóstolo afirma que esse milagre aconteceu quando o crente foi batizado na morte do Senhor (v.12), isto é, quando, pela fé, ele se uniu ao Salvador, morrendo para o pecado e ressuscitando para uma vida nova (Rm 6.3,4). Assim, Paulo trata nessa passagem de duas realidades ligadas, porém ligeiramente distintas: a participação do crente na morte de Cristo (o que é chamado de batismo) e o amortecimento de sua natureza pecaminosa (a circuncisão do coração) decorrente da participação na morte do Senhor. Esse e somente esse é o ensino claro da passagem, estando mui longe de servir de base para a noção de que o batismo é a versão cristã da circuncisão judaica. Conseqüentemente, batizar bebês sob tal pretexto é prática carente de fundamento sólido.
Quanto ao argumento
construído sobre Romanos 4.11, onde a circuncisão é chamada de
“selo da justiça da fé”, este também é facilmente desfeito. Conforme visto,
seus proponentes afirmam que a circuncisão, um selo da justiça da fé, devia ser
aplicado a bebês sem fé, de modo que, segundo eles, nada pode haver de errado
em fazer o mesmo com o batismo, outro selo da justiça da fé. Essa linha de
raciocínio, contudo, está equivocada, pois, ao chamar a circuncisão de selo da
justiça da fé, Paulo se refere à circuncisão específica de Abraão. Tanto isso é
verdade que, se o texto em análise for lido com atenção, fatalmente saltará aos
olhos que a circuncisão ali mencionada é vista como um selo da justiça
procedente da fé que Abraão teve quando ainda incircunciso.
A circuncisão isoladamente considerada, portanto, não era um selo de fé, mas apenas uma marca distintiva no corpo dos que participavam da Antiga Aliança. Para receber um selo de fé, é preciso ter fé. Foi por isso que quando o eunuco etíope perguntou a Filipe se podia ser batizado, o evangelista respondeu: “É lícito, se crês de todo o coração” (At 8.37).
Desse modo, batizar bebês permanece uma prática sem qualquer base nas Escrituras. Na verdade, apenas crianças que já compreenderam o evangelho e aceitaram sua mensagem podem ser batizadas. Com efeito, a Bíblia diz que antes de ser batizada a pessoa deve arrepender-se e crer em Cristo (At 2.38,41,42; 8.37). E mais: as Escrituras mostram que o batismo é um símbolo de nossa morte para o pecado e ressurreição para uma nova vida (Rm 6.4,11). Por isso, somente podem participar do símbolo os que já participaram da realidade que ele representa.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloriaExtraído do Site www.igrejaredenção.org.br
Assinar:
Postagens (Atom)