Ainda aproveitando
o aniversário da Reforma o qual é comemorado no dia 31 de outubro...
O
crescimento do interesse pela fé reformada em todo o mundo é um fato que tem
sido notado aqui e ali pelos estudiosos de religião. Crescem em toda a parte a
publicação de literatura reformada, o ingresso de estudantes em seminários e
instituições reformadas, a realização de eventos, o surgimento de novas igrejas
e instituições de ensino reformadas e o número de pessoas que se dizem
reformadas, especialmente oriundas de denominações pentecostais.
Como se trata de um
rótulo, é preciso definir “reformado.” Por “reformado” entendo aquele que adere
a uma das grandes confissões reformadas produzidas logo após a Reforma
protestante no século XVI, aos cinco grandes pontos dessa Reforma, que são Sola
Scriptura, Sola Gratia, Sola Fides, Solus Christus e Soli Deo Gloria e aos
chamados “Cinco Pontos do Calvinismo,” resumidos no acrônimo TULIP (Depravação
total, Eleição incondicional, Expiação limitada, Graça irresistível e
Perseverança final).
A Reforma produziu
movimentos associados aos seus grandes líderes, os quais concordariam
substancialmente entre si quanto aos “solas” e o TULIP, mas que divergiram em
outros pontos. Refiro-me a luteranos, zuinglianos e calvinistas. Com o passar
do tempo, o nome “reformado” foi se associando mais e mais aos calvinistas, de
maneira que, de maneira genérica, os termos “reformado” e “calvinista” são
usados hoje como similares.
Existe, todavia, um
grande número de igrejas que são da "tradição reformada" mas que já
não creem de maneira ortodoxa quanto a estas doutrinas. Geralmente essas
igrejas não estão experimentando esse crescimento, mas um esvaziamento, como a
Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos e outras denominações historicamente
ligadas à Reforma, mas que já não professam seus postulados. Por outro lado, da
África, Coréia, China, Indonésia, por exemplo, chegam relatórios do
florescimento calvinista. É claro que o calvinismo acaba recebendo diferentes
interpretações e expressões em tantas culturas variadas, mas os pontos centrais
estão lá.
Isso não quer dizer
que os reformados são muito numerosos, comparados com pentecostais e
arminianos, por exemplo. O que eu quero dizer é que os relativamente poucos
reformados têm experimentado um crescimento que já chama a atenção de muitas
denominações e tem provocado alertas da parte de seus líderes.
A ressurgência
calvinista nos Estados Unidos não está ocorrendo somente entre os Batistas, mas
entre muitas outras denominações. Um dos motores é o ministério de pastores
reformados populares, como John Piper, R. C. Sproul, Mark Driscoll, J. C.
Mahaney, Paul Washer , Tim Keller, Kevin DeYoung e John MacArthur, entre
outros. Os eventos promovidos por eles recebem milhares de pastores de todas as
denominações e seus livros são traduzidos em dezenas de línguas, inclusive em
português. No Brasil temos quase todos os títulos destes autores.
Mas, o interesse
maior na fé reformada no Brasil parece ser da parte dos pentecostais. Cresce a
presença de pastores e líderes pentecostais nos grandes eventos reformados no
Brasil. Cresce também o número de pentecostais que estão adquirindo literatura
reformada. E cresce o número de igrejas pentecostais independentes que estão
nascendo já com uma teologia influenciada pelo calvinismo. Algumas denominações
pentecostais também vêm recebendo a influência calvinista a passos largos.
O ministério de
editoras que publicam material reformado, como a Editora Cultura Cristã, a Editora Fiel
e a Publicações Evangélicas Selecionadas, por exemplo, tem servido para colocar
as obras de reformados brasileiros e internacionais nas mãos dos evangélicos
brasileiros ávidos por uma teologia consistente, e cansados dos excessos do
neopentecostalismo e da aridez do liberalismo teológico.
Não tenho uma
explicação definitiva para esse fenômeno do retorno da TULIP. No mínimo, é
curioso que uma fé tão perseguida e odiada como o calvinismo, de repente, passe
a ter mais aceitação. Poucos, na história da Igreja, foram tão mal entendidos,
distorcidos, vilipendiados, odiados e amaldiçoados quanto João Calvino. Chamado
de tirano, déspota, incendiário de hereges, frio, duro, determinista, criador
do capitalismo selvagem, Calvino tem sofrido mil mortes nas mãos de seus
detratores, os quais, na maioria das vezes, nunca leram sequer uma de suas
obras, e que formaram sua opinião lendo obras de críticos.
Somente espero que,
à medida que o movimento cresce no Brasil, os reformados aprendam a reter o que
é essencial e bíblico na Reforma, sem tornar em matéria de fé aquilo que
pertenceu a séculos passados em outras culturas, como, infelizmente, já tem
acontecido no Brasil com alguns grupos. Que eles lembrem que a fé bíblica, que
é a fé da Reforma, também pode se expressar dentro da rica e variada cultura
brasileira.
Pr. Augustus Nicodemus
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